terça-feira, 17 de novembro de 2009

Governo prioriza leilão de trigo para amenizar cenário de baixa

SÃO PAULO - Para apoiar a comercialização de trigo no País, a COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO (CONAB) realizará um leilão por semana até o final deste ano, totalizando seis eventos do Programa de Escoamento da Produção (PEP), para os quais deverá destinar R$ 200 milhões. A medida é considerada paliativa, já que o cenário mundial para a commodity é de oferta excedente e preços pressionados, o que no Brasil é agravado pelo fator cambial. Desde o início da colheita do cereal, em meados de agosto, já foram realizados seis leilões e nesta semana deve ocorrem mais dois. Até agora, foram ofertadas 812 mil toneladas de trigo e a demanda foi de 591 mil toneladas.
A expectativa da Câmara Setorial das Culturas de Inverno é a de que antes do início do próximo plantio seja apoiada a comercialização de até 3 milhões de toneladas de trigo, o que equivale a metade da safra brasileira. Na temporada 2008/2009, o escoamento de 37% da safra recebeu o subsídio de algum mecanismo.
De acordo com João Paulo de Moraes Filho, diretor de operações da CONAB, pelo volume financeiro que está sendo gasto semanalmente, os leilões devem continuar. "Estamos trabalhando no limite da necessidade de escoamento dessa safra. Acreditamos que resolva, mas isso é sempre reavaliado", disse Moraes.
Élcio Bento, analista da Safras & Mercado, explica que neste ano, com o mercado internacional em queda e com o dólar desvalorizado, o mercado fica dependente do governo. "Fundamentalmente o cenário de trigo no mundo é de baixa", afirma.
O País tinha iniciado a safra 2008/2009 com estoques da ordem de 415 mil toneladas. Na atual temporada, o estoque de passagem pulou para 1,99 milhão de toneladas, sendo cerca de 750 mil em estoques do governo.
Este ano, a queda prevista para a produção, em razão de problemas climáticos, poderia diminuir a oferta e impulsionar os preços, no entanto, as mesmas intempéries do clima reduziram a qualidade de trigo, dificultando a comercialização e pressionando as cotações do grão.
A Associação Brasileira da Indústria do Trigo (Abitrigo) estima que no Paraná, principal estado produtor de trigo do País, cerca de 40% da produção foi prejudicada pela incidência de brusone. A incidência de chuvas teria prejudicado a ação de fungicidas. O trigo atacado não serve para a indústria alimentícia e acaba virando triguilho ou ração, produtos de baixo valor comercial. Por isso, apesar da comercialização lenta e preços baixos, o analista da Safras afirma que "haverá nichos de marcado para produtos de boa qualidade".
Em algumas importantes regiões produtoras, como a dos Campos Gerais do Paraná, o excesso de chuva registrado durante o cultivo do trigo já resultou prejuízo acima de R$ 30 milhões, de acordo com o Departamento de Economia Rural, da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Deral/Seab). Aproximadamente 65 mil toneladas da produção perderam a qualidade.
Segundo Bento, justamente pela baixa qualidade do produto ofertado a demanda nos leilões da CONAB não deve ser integral. "A indústria tem pouco interesse por esse trigo", disse o analista. Dependendo dos resultados dos próximos leilões o governo poderá reavaliar o valor do prêmio pago à indústria, que hoje varia de R$ 94 a R$ 190 por tonelada, de acordo com o tipo de trigo.
Para minimizar as perdas dos triticultores, o preço mínimo pago pela tonelada também é compensador, mais de US$ 100 em relação ao preço de referência no mercado internacional.
As cotações estão em queda por conta dos estoques finais de trigo dos Estados Unidos que são tidos como os maiores em dez anos pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). A projeção atual para os estoques de passagem é de 24,08 milhões de toneladas, ante 23,81 milhões de toneladas registradas no mesmo período do ano anterior. A estimativa para a produção estrangeira foi aumentada em 3,9 milhões de toneladas.
Mesmo com preços internacionais baixos o governo deve seguir dando preferência ao PEP como forma de subvenção, que além de diminuir o risco para o governo caso o mercado internacional sofra uma reversão, o escoamento é feito de forma quase imediata, o que elimina problemas referentes ao armazenamento do produto.
Fonte: Conab

Nenhum comentário: